Teoria da recapitulação
A teoria da recapitulação foi uma tentativa de aplicar a semelhança embriológica (homologia) em apoio da ancestralidade comum darwiniana. A teoria foi apresentada em 1866 por Ernst Haeckel que cunhou a frase ontogenia recapitula a filogenia para descrever esta visão. Haeckel sugeriu que fendas branquiais e uma cauda pode ser visto durante o desenvolvimento embrionário, em organismos que não os possuíam quando adultos. Se afirmou que estes organismos deviam ter possuído estruturas durante sua história evolutiva que foram perdidas na fase adulta, devido a seleção natural. Sua teoria sustentou que os organismos progrediam através de estágios em sua história evolutiva durante o desenvolvimento embrionário - uma teoria que ficou conhecida como a lei biogenética.
- Ontogenia é o desenvolvimento do organismo.
- Filogenia é a história evolutiva.
É importante notar que as fendas branquiais não são fendas absolutamente, mas apenas as dobras na região do pescoço do embrião que nunca estão envolvidas com a troca gasosa (O2 / CO2), que é realizada através do cordão umbilical. Estas dobras, agora chamadas arcos faríngeos, mais tarde tornam-se o ouvido externo e o médio bem como os ossos, músculos, nervos, e glândulas do pescoço. O aparecimento de uma cauda embrionária é simplesmente devido ao rápido crescimento da medula espinhal, fazendo a tornar-se mais longa do que o corpo, e forçando o corpo a enrolar. Esta ondulação contribui para as dobras visíveis na região do pescoço, da mesma forma que uma pessoa desenvolve um queixo duplo ao dobrar o pescoço para a frente.[1]
A fraude de Haeckel
Na tentativa de provar a sua teoria verdadeira, Ernst Haeckel cometeu um dos exemplos mais famosos de fraude científica. Em 1868, ele publicou a série de embriões na figura à direita mostrando diversos seres vivos colocados lado a lado, na tentativa de dar a impressão de que existe uma semelhança significativa entre eles. Os embriões mostrados nos estágios iniciais foram alterados para torná-los mais semelhantes do que são na realidade. O embriologista Jonathan Wells observa que Haeckel também foi muito seletivo sobre os embriões que ele escolheu para sua ilustração.[2] As quatro colunas da direita no diagrama à direita são todas da mesma subclasse taxonômica Eutheria (mamíferos placentários). Marsupiais e monotremados foram excluídos, bem como peixes cartilaginosos (tubarões) e outros.[3] A fraude foi exposta apenas alguns meses após a publicação destas gravuras por L. Rütimeyer, professor de zoologia e anatomia comparada na Universidade de Basel, e corroborado por outros contemporâneos como William His Sr, professor de anatomia na Universidade de Leipzig, que publicou suas próprias comparações mostrando diferenças significativas (figura à esquerda).[4]
Em 1997, toda a extensão da fraude de Haeckel foi trazida à tona quando Michael K. Richardson, palestrante e embriologista na St George’s Hospital Medical School, Londres, publicou fotos de embriões reais que ilustram as discrepâncias entre os diagramas populares de Haeckel e os embriões genuínos.[5] Richardson descreveu a situação em uma entrevista na revista Science como se segue: Parece que ele está se transformando em uma das falsificações mais famosas na biologia.[6][nota 1] O estudo foi publicado em outras revistas científicas[7] O esforço envolveu uma equipe internacional de embriologistas que examinaram e fotografaram "a forma externa de embriões a partir de uma ampla gama de espécies de vertebrados, numa fase comparável àquela descrita por Haeckel" porque até aquele momento, era evidente que "ninguém citou dados comparativos em apoio à esta idéia". Eles analisaram 39 animais diferentes, incluindo os publicados por Haeckel e muitos que não foram, como marsupiais, rãs, cobras e jacarés, e eles encontraram significantes diferenças com pouca conservação na fase de desenvolvimento que Haeckel alegou ser a mais similar. De fato, as espécies na publicação fraudulenta são tão diferentes que é assumido que os desenhos feitos por Haeckel não poderiam ter sido feitos a partir de amostras reais.[8]
Em uma entrevista para o Times de Londres, Richardson é citado como dizendo:
“ | This is one of the worst cases of scientific fraud. It’s shocking to find that somebody one thought was a great scientist was deliberately misleading. ... What he did was to take a human embryo and copy it, pretending that the salamander and the pig and all the others looked the same at the same stage of development. They don’t … These are fakes.[9] | ” |
Uso em livros didáticos
A despeito da exposição precoce desta fraude por seus contemporâneos e após o reconhecimento quase universal pela comunidade científica, as comparações de embriões de Haeckel continuam a aparecer nos livros didáticos em apoio à ancestralidade comum. Exemplos de uso recente incluem a edição de 2004 do Biology: The Unity and Diversity of Life de Starr e Taggart.[10], e a edição de 1992 de Biology, um texto de biologia com nível universitário introdutório que afirma: "Em muitos casos, a história evolutiva de um organismo pode ser vista a se desdobrar durante o seu desenvolvimento, com o embrião exibindo as características dos embriões dos seus antepassados. Por exemplo, no início de seu desenvolvimento, os embriões humanos possuem fendas branquiais como um peixe..."[11]
Em 2000, o eminente evolucionista Stephen Jay Gould chamou o uso contínuo destes embriões nos livros didáticos atroz:
“ | Nós, eu penso, temos o direito de estar tanto estupefatos quanto envergonhados pelo século de reciclagem irracional que levou à persistência desses desenhos em um grande número, se não a maioria, de livros didáticos modernos. (Stephen Jay Gould)[12] | ” |
Livros didáticos que usaram desenhos de Haeckel de embriões (ou versões colorizadas quase idênticas) para promover a evolução
Autor | Título | Ano de publicação | Descrição e detalhes | Referência |
---|---|---|---|---|
Joseph Raver | Biology: Patterns and Processes of Life | 2003 | Draft version presented to the Texas State Board of Education for approval in 2003, pg. 100[13] | [14] |
Cecie Starr and Ralph Taggart | Biology: The Unity and Diversity of Life (versão proposta) | 2003 | Wadsworth, draft version presented to the Texas State Board of Education in 2003, pg. 315[13] | [14] |
Peter H Raven & George B Johnson | Biology | 2002 | 6th ed, McGraw Hill, pg. 1229[13] | [14] |
Michael Padilla et al. | Focus on Life Science (Edição da Califórnia) | 2001 | Prentice Hall, pg. 372[13] | [14] |
Peter H Raven & George B Johnson | Biology | 1999 | 5th ed, McGraw Hill, pgs. 416, 1181[13] | [14] |
William D. Schraer and Herbert J. Stoltze | Biology: The Study of Life | 1999 | 7th ed, Prentice Hall, pg. 583[13] | [14] |
Douglas J. Futuyma | Evolutionary Biology | 1998 | 3rd ed, Sinauer, pg. 653[13] | [14] |
Cecie Starr and Ralph Taggart | Biology: The Unity and Diversity of Life | 1998 | 8th ed, Wadsworth, 1998, pg. 317[13] | [14] |
Kenneth R Miller & Joseph Levine | Biology: The Living Science | 1998 | Prentice Hall, pg. 223[13] | [14] |
Kenneth R Miller & Joseph Levine | Biology | 1998 | 4th ed., Prentice Hall, pg. 283[13] | [14] |
Ernst Mayr | What Evolution Is | 2001 | Basic Books, pg. 28 | [15] |
Donald Prothero | Evolution: What the Fossils Say and Why it Matters | 2007 | pg. 110 | [16] |
Bruce Alberts, Dennis Bray, Julian Lewis, Martin Raff, Keith Roberts, James D. Watson | Molecular Biology of the Cell | 1994 | 3rd edition, Garland Publishing, pg. 33 | [17] |
![]() Navegar |
Notas
- ↑ Em uma publicação de 2009, Robert Richards fez uma reengenharia na fotografias de Richardson de embriões removendo o material da gema dos embriões e alterando a orientação de algumas fotografias em um esforço para demonstrar que a fraude não estava provada. No entanto, mesmo com o material da gema removido os embriões são bastante diferentes e mal se assemelham aos desenhos de Haeckel. Notavelmente os exemplos de embriões de salamandra e de peixe nas fotos trabalhadas por Richards são completamente diferentes do que o que foi ilustrado por Haeckel. É preciso um esforço sobre-humano para considerar que tem alguma semelhança, em (5 de novembro de 2008) "Haeckel’s embryos: fraud not proven". Biology and Philosophy 24 pp. 147-154. Springer Science+Business Media B.V.. ISSN 0169-3867.
References
- ↑ Mitchell, T., and Mitchell, E. Something fishy about gill slits! Answers in Genesis, March 14, 2007
- ↑ Wells, Jonathan. Icons of Evolution: Science or Myth. Washington, DC: Regnery Publishing, 2002. p. 81-109. ISBN 0-89526-200-2
- ↑ Wells, Jonathan. The Politically Incorrect Guide to Darwinism and Intelligent Design, p.26. Regnery Publishing, Inc. 2006.
- ↑ Batten, D., Catchpoole, D., Sarfati, J., Wieland, C. The Creation Answers Book, p.113-114. Creation Book Publishers. 2007.
- ↑ Richardson, Michael K., et al., There is no highly conserved embryonic stage in the vertebrates: implications for current theories of evolution and development Anatomy and Embryology 196(2), 1997, pp. 91-106
- ↑ Pennisi, Elizabeth. (September 5, 1997). "Haeckel's Embryos: Fraud Rediscovered". Science 277 (5331) pp. 1435. American Association for the Advancement of Science. DOI:10.1126/science.277.5331.1435a. ISSN 0036-8075.
- ↑ Sarfati, Jonathan. Refuting Evolution. Green Forest, AR: Master Books, 1999. p. 85. ISBN 0-89051-258-2
- ↑ Grigg, Russell. Fraud rediscovered Creation 20(2):49–51, Março de 1998
- ↑ Nigel Hawkes, The Times (London), p. 14, 11 August 1997
- ↑ Wells, p.28
- ↑ Raven, P.H. and Johnson, G.B., 1992. Biology (3ª edição), Mosby–Year Book, St. Louis, p. 396.
- ↑ Gould, Stephen Jay. “Abscheulich! Atrocious! Natural History, Março, 2000, p. 45
- ↑ 13,0 13,1 13,2 13,3 13,4 13,5 13,6 13,7 13,8 13,9 Luskin, Casey (27-03-2007). What do Modern Textbooks Really Say about Haeckel's Embryos?. Discovery Institute. Página visitada em 17 de fevereiro de 2013.
- ↑ 14,0 14,1 14,2 14,3 14,4 14,5 14,6 14,7 14,8 14,9 New York Times Rehashes Darwinist Myths about Haeckel's Embryo Drawings and Evolution. Página visitada em 17 de fevereiro de 2013.
- ↑ Mayr, Ernst. What Evolution Is. New York: Basic Books, 2001. p. 28. ISBN 0-465-04425-5
- ↑ Featured Topic 10/09: Evolutionary PRATTs. Página visitada em 17 de fevereiro de 2013.
- ↑ Alberts, Bruce; Bray, Dennis; Lewis, Julian; Raff, Martin; Roberts, Keith; Watson, James D.. Molecular Biology of the Cell. New York & London: Garland Publishing, 1994. p. 33. ISBN 0-8153-1619-4
External links
Creationist
- Does The Human Embryo Go Through Animal Stages? by John D. Morris, Ph.D., Institute for Creation Research.
- Embryology and Evolution by Wayne Frair, CRSQ Volume 36(2):62-67 September 1999
- Embryology Rejects the Lie of Evolution Chapter 35 of The Miracle Of Human Creation by Harun Yahya.
- Ernst Haeckel: Evangelist for evolution and apostle of deceit by Russell Grigg, Creation 18(2):33–36, 1996.
- Haeckel's Embryos: Setting the Record Straight by Jonathan Wells. The American Biology Teacher, May 1, 1999
- Hoax of Dodos: Flock of Dodos Filmmaker Claims Haeckel’s Embryo Drawings Weren’t in Modern Textbooks—But He Knows Better By John G. West, Ph.D. and Casey Luskin, M.S., J.D., Discovery Institute.
- New York Times Rehashes Darwinist Myths about Haeckel's Embryo Drawings and Evolution by Casey Luskin. Evolution News and Views. August 26, 2008
- Unseating Naturalism: Recent Insights from Developmental Biology by Jonathan Wells, Ph.D.
Secular
- Ontogeny and phylogeny Wikipedia
Ver também
- Haeckel falsified his embryo pictures (Talk.Origins) Response to Talk.Origins argument
- Embriologia
- Mitos evolucionistas